Sociedade

E se a “censura à arte” no Brasil tivesse motivação islâmica, como a mídia reagiria?

 


O “tempo” dirá se a grande mídia brasileira que condena a chamada “cruzada moralista”, usará a mesma bravura para também condenar a “jihad moralista”.

Desde a ocorrência de denúncia dirigida ao Santander Cultural no tocante à incitação de pedofilia na exibição “Queer Museu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, que reunia 270 trabalhos de 85 artistas que abordavam a temática LGBT, questões de gênero e diversidade sexual, o Brasil se tornou arena de debates acalorados, os quais  – sob o enfoque midiático de denunciar a temida “censura” – abrigaram, de fato discussões entre defensores da ideologia de gênero e a opinião pública refratária a agenda de sexualização infantil.

Tão logo a sociedade civil tomou conhecimento da mostra, iniciou-se um movimento popular de protesto rechaçando a exposição sob acusação de blasfêmia a símbolos religiosos, além de pedofilia e zoofilia, sendo certo que a indignação maior se deu pelo fato de crianças de escolas públicas e privadas estarem visitando a exposição.

Outro motivo de revolta se refere ao financiamento da exposição com dinheiro público através de incentivos fiscais com base na Lei Rouanet, que tem privilegiado grandes grupos empresariais e artistas famosos com robustos recursos num país mergulhado em crise econômica.

Inicialmente, apavorado com a possibilidade de perder muitos clientes em virtude da ações de boicote promovidas via rede virtual, o Santander teria reconhecido a “falha” e resolveu  cancelar a exposição[1] emitindo nota afirmando:

Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição ‘Queermuseu’ desrespeitava símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo [2].

Contudo, assim que “artistas progressistas” e a grande mídia se uniram para defender a exposição “etiquetando” as manifestações populares de boicote como fruto de “censura virulenta de setores conservadores da sociedade”  – imediatamente rotulados de “fascistas” ,“nazistas”, “reacionários”, perpetradores de “terrorismo moral” – o curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, expôs decepção com a decisão do Santander encerrar a exposição[3].

E os “boicotadores” estavam com a razão…

Ademais, percebendo o apoio gigantesco da imprensa à condenação da “censura” e increpando um movimento social – MBL- de ser o “mentor da polêmica”, o curador reconheceu que crianças e adolescentes também estariam elencados como público alvo da exposição quando, ao ser indagado sobre a falta de fixação de faixa etária para acesso ao local, verberou:

De fato, a exposição é para adolescentes e crianças também… [4]

Porém, mal se arrefeceram os ânimos, eis que surge nova polêmica no cenário nacional: um vídeo com imagens de crianças acompanhando homem nu e uma delas manipulando o corpo do artista durante exibição no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), causou novas manifestações de repúdio por parte da sociedade, já que, mais uma vez, crianças estavam sendo alvos de exposições dessa natureza.

Apesar de alguns juristas ouvidos pela imprensa solidária à mostra não concordarem com a tese de “incitação à pedofilia”, afirmam que a ausência de classificação etária infringe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Por outro lado, Eduardo Tomasevicius Filho, professor de Direito da Criança e do Adolescente na USP, afirma que

[…] a exibição de órgão sexual masculino para uma menina já poderia ser interpretada como irrelevante e indevida. [5]

A “judicialização” da questão acerca da presença de público infantil para assistir e interagir durante a exibição de “nu artístico” só inflamou os debates nas redes. Aliás, a Rede Globo “orientou” seus atores a “maneirar no uso das redes”[6], coincidentemente, um dia após a repercussão negativa causada por atores globais no programa “Encontro”, os quais tentaram contestar uma idosa que se opôs à exposição em virtude de deplorar nu artístico direcionado às crianças[7]. Dona Regina” virou meme e foi um dos assuntos mais tuitados do Brasil.

Ao que parece, o fenômeno da “vovó conservadora” assustou uma grande rede de comunicação.

Todavia, estranhamente, até o momento, não vi intelectuais, jornalistas ou artistas famosos criticando a “orientação censora” da Globo aos seus elencos. Será que a “pauta anti-censura” da maior emissora do país sofreu mudança sutil após perceber que grande público simpatizou com uma “vovó reacionária”?

Como a grande mídia, em geral, desprezou o impacto da opinião de uma idosa nas redes, impossível avaliar as “reais intenções” da Globo, não é verdade?

Contudo, minha “verve internacionalista” me obriga a contextualizar o tema seguindo a tendência “cultural global”. Como dificilmente a imprensa relata o “choque entre costumes islâmicos e ocidentais”, torna-se praticamente imperceptível a “assimilação paulatina” que o Ocidente vem sofrendo em prol da agregação de valores islâmicos ao conceito de “arte”.

Em que pese existir notável acervo literário e artístico produzido por povos muçulmanos[8] ao longo dos séculos, fato é que, infelizmente, o aspecto “castrador” – que sempre acompanhou as mentes e ações de muitos líderes mais voltados à ortodoxia – configura-se como sério óbice para manifestações artísticas.

Conforme exposto em matéria da BBC, para “a maioria dos muçulmanos, há uma proibição absoluta de fazer imagens do profeta Mohammad ou de quaisquer profetas da religião, os quais não devem ser retratados de forma alguma. Estátuas e imagens também estão nesse “rol de censura islâmica” porque “encorajam adoração de ídolos[9]”. Há, também, severas reprimendas do Islã ortodoxo em relação à música, tendo como uma das alegações a ideia de que provocaria “desejos físicos e caprichos”[10].

Se a visão ortodoxa islâmica se restringisse apenas a Estados muçulmanos, esse tema de “censura da arte” poderia ser preocupação quase exclusiva de estudiosos de antropologia, porém, a imigração em massa que vem sofrendo a Europa tem mostrado que a “visão islâmica radical” acerca da arte já causa sérios problemas que a “imprensa multiculturalista” se recusa a nominar como “censura”. Em artigo esclarecedor, o jornalista italiano Giulio Meotti, que é editor cultural de Il Foglio, relata casos assustadores de “assimilação forçada” de museus europeus à ditadura da cultura censora islâmica[11].

Por acaso, a referida “censura” de cunho religioso não-cristão abalou a imprensa ou o exigente mundo artístico ávido por liberdade de expressão?

Importante museu da Suécia foi obrigado a retirar um quadro da artista Louzia Darabi na exposição intitulada “Aids na Era da Globalização”, por ter a obra retratado uma mulher mantendo relação sexual com um homem, e tendo um verso do Alcorão escrito em árabe.

Por conseguinte, o famoso Museu do Louvre, na França, cancelou o projeto de instalar uma seção de exposição do patrimônio artístico de cristãos orientais anunciado pelo então presidente Sarkozy, em 2010, substituindo-a por seção dedicada a “arte islâmica”, que “certamente” deve ter mérito mais elevado que a “arte cristã oriental” na Europa multiculturalista que incansavelmente execra “valores cristãos”.

Porventura, o nobre leitor assistiu algum “artista” denunciando e condenando essas e outras tantas “ações de censura”  promovidas por modelos islâmicos de imposições culturais na “Eurábia”?

Considerando que a Itália cedeu às regras impostas por aiatolás – que censuram a nudez de estátuas –  os museus Capitolinos cobriram todas as obras desnudas quando da visita do presidente do Irã[12] – fico pensando: será que a grande mídia e artistas brasileiros denunciariam atos de censura, se provenientes de importantes lideranças islâmicas no Brasil?

Alguém pode responder: “não há motivo”, pois não ocorreu manifestação pública de repúdio da parte de comunidades muçulmanas em relação aos acontecimentos já explicitados. Nesse caso, vale sempre lembrar que décadas atrás, entidades islâmicas em solo europeu não exigiam publicamente a implementação da sharia (lei islâmica) naquele território; e hoje, o parlamento europeu já abdicou de seus valores e discute abertamente a prática de “regras comportamentais medievais” em atendimento ao conclame muçulmano de implantação da sharia no “Ocidente infiel”[13], acontecimento este devidamente escamoteado pela imprensa conivente.

Logo, o processo de imposição da “submissão ocidental” ao Islã não é imediato e requer anos de adequação aos “conceitos islâmicos” através do instrumental multiculturalista que renega valores da civilização ocidental infamando-os, o que ocorre de maneira simultânea ao enaltecimento das “contribuições culturais” de povos muçulmanos paradoxalmente aliado ao “mito da vitimização”, possibilitando, assim, o fortalecimento das minorias muçulmanas que passam a gozar de privilégios acima dos ofertados pelos Estados aos demais nacionais[14].

Todavia, o brasileiro pode acreditar na falácia de que a “censura islâmica” que se instalou em museus europeus jamais chegará à terra em que “quase toda nudez não é castigada”. Contudo somente o “tempo” dirá se a grande mídia brasileira que condena a chamada “cruzada moralista”, usará a mesma bravura para também condenar a “jihad moralista”.

 

Referências

[1] http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2017/09/11/santander-cancela-mostra-de-arte-apos-pressao-do-mbl/
[2] http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1917269-apos-protesto-mostra-com-tematica-lgbt-em-porto-alegre-e-cancelada.shtml
[4] https://www.youtube.com/watch?v=Bq3UMfqcPgE
[5] http://www.gazetadopovo.com.br/justica/homem-nu-manipulado-por-crianca-expoe-conflito-entre-autoclassificacao-e-responsabilidade-dos-pais-ewz25frc49k79v8g2b2d4cagv
[6] https://tvefamosos.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2017/10/06/ordem-da-globo-atrizes-e-atores-terao-que-maneira-no-uso-das-redes-sociais.htm
[7] http://www.otvfoco.com.br/artistas-da-globo-se-irritam-com-senhora-da-plateia-do-encontro-e-ficam-em-saia-justa-ao-vivo/
[8] https://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/18-tesouros-do-isla/
[9] http://www.bbc.com/news/magazine-30814555
[10] https://islamqa.info/en/5000
[11] https://www.gatestoneinstitute.org/10208/europe-afghanistan
[12] http://veja.abril.com.br/mundo/italia-cobre-estatuas-nuas-para-visita-do-presidente-iraniano/
[13] https://www.youtube.com/watch?v=ofmEwHdJI7g
[14] https://www.gatestoneinstitute.org/10352/germany-migrants-property-rights

Imagem fonte: Reprodução Google

Andréa Fernandes

Graduada em Direito, Ciências Contábeis e Relações Internacionais, é Diretora-Presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires, instituição humanitária que milita denunciando a perseguição religiosa e violações dos direitos humanos no mundo muçulmano junto ao Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos públicos, bem como promove eventos objetivando fomentar conscientização humanitária para socorrer as vítimas da intolerância religiosa. É também colunista no Portal Gospel Prime. Para saber mais sobre Andréa, acesse a página Equipe no rodapé do site.

One thought on “E se a “censura à arte” no Brasil tivesse motivação islâmica, como a mídia reagiria?

  • Raimundo Nonato

    Não se deve por crianças ao lado de homens nus. Duvido que colocassem a cantora Anita nua com meninos. Santander é europeu e deve respeitar o Brasil. Não são os artistas da globo que mandam no Brasil. O Brasil não é comunista e jamais será. Somos sim CRISTÃOS.

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